A hidrografia da RH II é marcada por divisores de águas que fragmentam a região em cinco sub-bacias: rio Piraí, rio Guandu, rio Guandu-Mirim, rio da Guarda e Litorâneas. Com exceção da bacia do rio Piraí, que drena parcialmente para o rio Paraíba do Sul, as demais drenam sentido oceano via baia de Sepetiba, região litorânea do Estado (Hidrografia da Região Hidrográfica II/Guandu). Abaixo são descritas algumas peculiaridades de cada sub-bacia:
- Sub-bacia do rio Piraí: parte do volume de água que o compõe é destinada a transposição de, em média, 119 m³/s do rio Paraíba do Sul por meio da Elevatória de Vigário e do Túnel de Tocos, no município de Barra do Piraí. De modo que aproximadamente 63% das águas da barragem de Santa Cecília, situada em Barra do Piraí/RJ, destinam-se à bacia do rio Guandu e abastecimento do Reservatório Ribeirão das Lajes (ANA, 2014). A transposição é formada por um sistema hídrico de rios, canais, reservatórios, usinas hidrelétricas, estações elevatórias e outras estruturas hidráulicas. A sub-bacia rio Piraí possui área de drenagem de 1.013 km².
- Sub-bacia do rio Guandu: esta é a maior sub-bacia da RH II, com 1.445 km². Possui como principais afluentes os rios Pires, Ribeirão das Lajes, Santana, São Pedro, Queimados, Ipiranga, Guandu e Canal São Francisco. As bacias do Rio Piraí e do Rio Guandu são conectadas através dos sistemas de transposições. Possui importância estratégica para o estado do Rio de Janeiro por ser considerada a maior estação de tratamento de água do mundo em produção contínua, a Estação de Tratamento de Água do Guandu, gerando abastecimento de água para mais de 12 milhões de pessoas – 80% dos habitantes da Região Metropolitana.
- Sub-bacia do rio Guandu-Mirim: possui área de drenagem de 177 km², demarcado na margem direita pela Serra do Mendanha e na margem esquerda por elevações residuais da Serra do Mar que compõem também o Parque Estadual da Pedra Branca. Essa sub-bacia abrange parte da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ), apresentando elevada concentração populacional e de geração de riqueza (PIB), abrigando os polos industriais de Campo Grande, Paciência e Palmares.
- Sub-bacia do rio da Guarda: Esta sub-bacia possui área de drenagem de 302 km². Delimitada a margem direita da bacia do rio Guandu. O uso da água desta sub-bacia é influenciado pelo Distrito Areeiro da Piranema, que extrai água subterrânea para mineração de areia. Também merece atenção à presença do Centro de Tratamento de Resíduos – CTR Rio – Ciclus, em Seropédica, e o eventual risco de contaminação dos corpos hídricos.
- Sub-bacias Litorâneas: formada por um conjunto de sub-bacias que drenam para a baia de Sepetiba e Mangaratiba. Destacando as sub-bacias dos rios Ingaíba, do Saco, São Brás, Sahy, Rio Grande, Piraquê e Portinho. A margem direita é mais preservada, já a margem esquerda é mais degradada, principalmente por estar incluída no município do Rio de Janeiro, recebendo boa parte das cargas geradas pela capital do estado (COMITÊ GUANDU, 2018). Juntas, possuem área de 772 km².
Segundo o Estudo de Dimensionamento de uma Rede de Monitoramento Hidrometeorológico na Região Hidrográfica II – Guandu/RJ (AGEVAP, 2021), estão presentes 253 estações de monitoramento, dentre as quais 148 contam com monitoramento pluviométrico, 77 contam monitoramento fluviométrico e 63 possuem monitoramento de qualidade da água. O monitoramento integrado Sistema de Informações Geográficas e Geoambientais das Bacias Hidrográficas dos Rios Guandu, da Guarda e Guandu-Mirim (AGEVAP, s.d.) contempla em sua base de dados 28 estações de monitoramento de qualidade de água localizadas na RH II (Pontos de monitoramento de qualidade da água na RH II).
Segundo o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) o monitoramento contínuo e sistemático dos corpos hídricos do Estado do Rio de Janeiro é a base para a avaliação da qualidade das águas do Estado. A classificação dos corpos d’água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento baseiam-se na Resolução Conama 357/2005 que estabelece padrões de qualidade das águas através de limites individuais para diferentes substâncias.
Com o intuito de tornar as informações presentes no sistema de monitoramento de qualidade de água mais objetivas, mais fáceis de serem interpretadas e com uma linguagem mais acessível ao público os relatório e boletins disponíveis são baseados em Índices de Qualidade de Água. Para representar a qualidade dos rios é aplicado o Índice de Qualidade da Água NSF (IQANSF), que consolida em um único valor os resultados de diferentes parâmetros. Esse índice foi desenvolvido pela National Sanitation Foundation dos Estados Unidos e atualmente é utilizado por diversos órgãos brasileiros.
A tabela abaixo apresenta os níveis de qualidade de água a partir dos resultados obtidos pelo cálculo do IQANSF, classificados em faixas.
Em síntese, os índices de qualidade da água (IQA) médios entre 2012 e 2020 das sub-bacias são apresentados abaixo:
- Sub-bacia do rio Piraí: apesar da grande dimensão possui apenas uma estação de monitoramento de qualidade da água nas imediações de Barra do Piraí. O IQA médio entre 2012 e 2020 indicou qualidade ruim (50 > IQA ≥ 25) para este ponto.
- Sub-bacia do rio Guandu: foram identificadas 13 estações contidas nesta sub-bacia. A qualidade variou de muito ruim (25 > IQA ≥ 0) a boa (90 > IQA ≥ 70). Os valores de qualidade muito ruim apareceram no rio Queimados, sobretudo nas proximidades de termelétricas. Os valores de IQA classificados como de boa qualidade apareceram nas imediações do Ribeirão das Lajes, local de primordial importância, considerando que esta represa é utilizada para abastecimento humano no Rio de Janeiro e região metropolitana.
- Sub-bacia do rio Guandu-Mirim: esta sub-bacia apresenta uma única estação de controle de qualidade da água. Este ponto localizado no rio Guandu-Mirim resultou em uma qualidade muito ruim.
- Sub-bacia do rio da Guarda: as três estações de monitoramento de qualidade da água identificadas nesta sub-bacia apresentam IQA classificada como ruim.
- Sub-bacia Litorânea (margem direita): os seis pontos de monitoramento de IQA apresentaram resultados com condições médias (70 > IQA ≥ 50).
- Sub-bacia Litorânea (margem esquerda): quatro foram às estações de controle de IQA nesta sub-bacia. A qualidade da água variou entre média a muito ruim, sendo que o único ponto com qualidade média estava localizado nas proximidades do Parque Estadual Pedra Branca.
Assim, considerando a importância da qualidade da água para potabilidade e abastecimento humano, um importante fator de impacto está relacionado ao lançamento diário de efluentes de natureza doméstica e industrial, principalmente em áreas urbanizadas e/ou locais de menor volume de vazões, na maioria das vezes sem qualquer tipo de tratamento. Desta forma, uma maneira eficaz de garantir a disponibilidade hídrica na RH II no longo prazo, em qualidade e quantidade para todos, se faz por meio d o planejamento de ações, como a racionalização de usos da água, redução da poluição dos rios, preservação e recuperação das florestas, principalmente suas matas ciliares, assim como, redução de perdas nos sistemas de abastecimento público, que atualmente chega a 30%.